Cada dia que passa, mais jovens talentos vem surgindo no mundo dos esports. Contudo, como lidar com a vontade de crescer e a dedicação para os estudos? Vamos analisar mais, logo abaixo!

A trajetória de um jogador profissional de esports começa cada vez mais cedo. Em jogos como VALORANT e League of Legends, é comum ver jovens de 14 ou 15 anos já sendo observados por olheiros de equipes academy, acumulando horas de treino diárias e lidando com expectativas que muitas vezes ultrapassam a maturidade da idade.
Nesse contexto, surge um dilema que vai além da tela: como equilibrar o desenvolvimento competitivo com a educação formal? E mais — qual é o papel dos pais nessa equação? Apoiar, supervisionar, colocar limites… ou tudo isso ao mesmo tempo?
A resposta passa por entender que não existe um caminho único, mas existem escolhas melhores do que abandonar os estudos em nome de um sonho incerto.
Um convite e uma dúvida
Roberto, 14 anos, acaba de receber uma mensagem no Discord. Um olheiro de um time da liga de base quer vê-lo em um tryout no fim de semana. O garoto treina VALORANT todos os dias após a aula, joga no Imortal e sonha com o competitivo. Mas no mesmo fim de semana, tem uma prova importante que pode definir sua média no colégio.
Seus pais estão divididos: dar uma chance ao sonho ou manter o foco na escola?
Essa é a realidade silenciosa de muitos jovens talentos nos esports — e também o dilema de suas famílias.
O peso da escolha precoce

Diferente de outras carreiras, os esports operam em uma lógica acelerada. O auge competitivo costuma acontecer cedo — entre os 17 e 23 anos — e, por isso, muitos jogadores precisam se destacar ainda durante a adolescência para terem uma chance real no cenário profissional.
No VALORANT, por exemplo, jogadores como aspas e Demon1 começaram a chamar atenção em ranked e torneios menores aos 15 e 16 anos. No Brasil, nomes como spikezin e luk xo já eram destaque em scrims e ligas paralelas bem antes da maioridade. Ambos integraram o elenco da 2 GAME e LOUD, respectivamente. Contudo, só poderiam disputar a VCT Américas — o principal campeonato do cenário — após completarem 18 anos, como determina o regulamento da Riot tanto para a LTA quanto para o VCT.
No caso de luk xo, a estreia finalmente aconteceu recentemente, após meses de preparação dentro da equipe. Até então, ele treinava com o time, mas sem poder jogar oficialmente.
Esses exemplos mostram que o talento pode surgir cedo, mas as oportunidades reais — especialmente nas grandes ligas — ainda esbarram em barreiras regulatórias. Isso exige paciência, planejamento e, muitas vezes, um suporte familiar sólido para que o jovem não se perca nesse intervalo entre o destaque e a estreia.
Além disso, uma pesquisa publicada pela British Journal of Sports Medicine aponta que jovens atletas de esportes eletrônicos são especialmente suscetíveis ao estresse competitivo, por lidarem com pressão, exposição e cobranças em uma fase ainda de formação pessoal.
Esse é o cenário em que pais se veem inseridos: o filho ou filha mostra talento real, recebe oportunidades, mas ainda precisa passar de ano na escola — e lidar com tudo isso sem comprometer a saúde mental.
Pais como ponte — não como barreira
Quantos talentos ficaram pelo caminho porque ouviram “isso é só um joguinho”?
No universo dos esports, o desinteresse ou resistência por parte dos pais ainda é um dos principais fatores que impedem jovens de desenvolverem seu potencial. Mas aqui vai uma provocação: o problema é o jogo… ou a falta de estrutura para lidar com ele?
Em vez de tentar impedir o contato com o competitivo, pais que escolhem entender o cenário conseguem agir como facilitadores. Estabelecem limites, ajudam a organizar rotinas, supervisionam acordos e, principalmente, tornam o processo mais saudável.
Não é coincidência que muitos dos atletas bem-sucedidos tenham histórias marcadas por esse tipo de apoio. Quando aspas explodiu no VALORANT, ainda com 17 anos, seu pai era quem organizava sua rotina e o acompanhava nos compromissos. Em outras modalidades, como no League of Legends, é comum ver pais participando de reuniões com organizações, servindo como “empresários” temporários até que os filhos estejam prontos para lidar com o mercado por conta própria.
Esse tipo de suporte é essencial em uma fase onde o jovem ainda não tem total maturidade para lidar com decisões de longo prazo. Afinal, não basta jogar bem — é preciso saber onde pisar, com quem assinar, e quando dizer “não”.
A real é que o apoio dos pais não significa empurrar o filho para o estrelato. Significa garantir que, caso ele chegue lá, não vá cair logo em seguida.
Estudo e competitivo: quem disse que é um ou outro?

Existe uma falsa dicotomia que ronda o universo dos esports: a ideia de que ou o jovem estuda, ou joga. Que não dá pra ser bom no servidor e ir bem na escola. Que uma coisa cancela a outra.
Mas vamos ser francos — isso nunca foi sobre falta de tempo. É sobre prioridade, organização e, principalmente, maturidade. E adivinha quem pode ajudar nisso tudo? Os próprios pais.
É cômodo colocar a culpa no jogo. Dizer que “esse menino só pensa em computador” é mais fácil do que sentar, entender a rotina dele, e ajudar a encaixar os estudos no meio disso. Mas o problema não é o game — é a ausência de equilíbrio.
E equilíbrio não se impõe com proibição, se constrói com diálogo.
Quer um exemplo? Alguns dos principais nomes do cenário conciliam faculdade, treino e campeonato — não porque é fácil, mas porque têm estrutura e orientação. Não é raro ver atletas profissionais fazendo cursos de gestão, marketing, tecnologia… porque entendem que a carreira no competitivo é curta e que o conhecimento é o verdadeiro plano B. Ou plano A2, se preferir.
Mais do que isso: muitas escolas, colégios e até universidades já começam a enxergar os esports como ferramenta de engajamento. Campeonatos escolares, bolsas de estudo, programas extracurriculares. Se o sistema de ensino está se atualizando, por que parte das famílias ainda insiste em pensar como se estivéssemos em 2005?
Quando o clube também educa
Obrigado a todos por acreditarem no meu sonho e a @FURIA e @fabcoachlol por acreditar no meu trabalho ! pic.twitter.com/BlX5IawvP0
— Arthur Medina (@ArthurMedinalol) April 4, 2025
Esperar que os pais deem conta de tudo — rotina, limites, motivação e, ainda por cima, conhecimento sobre o cenário — é irreal. E é aí que entra um ponto-chave: o papel das organizações.
Cada vez mais, clubes de esports têm entendido que formar um jogador não é só treinar mira ou posicionamento. É formar uma pessoa inteira. E, quando falamos de adolescentes, isso também inclui proteger, orientar e educar.
Algumas equipes já implementam políticas internas que exigem frequência escolar como condição para manter o jogador nas line-ups de base. Outras oferecem suporte psicológico, acompanhamento acadêmico e até mesmo incentivo a cursos paralelos. Essa virada de chave é fundamental para amadurecer o ecossistema como um todo.
A verdade é que o cenário competitivo também tem responsabilidade sobre quem ele forma. Não dá pra sugar o talento de um jovem e descartá-lo quando ele não performar mais. Clubes sérios entendem isso e, inclusive, sabem que investir em formação humana é bom negócio — porque jogador consciente rende mais, dura mais e representa melhor a marca.
Mais do que uma parceria com os pais, isso é um pacto com o futuro do esporte eletrônico.
E se o sonho não virar?
Todo mundo ama a história do jovem prodígio que saiu da ranked direto para o palco internacional. Mas sabe qual história a gente quase nunca ouve? A de quem tentou, parou de estudar… e não chegou lá.
A realidade é que a maioria dos que tentam viver de esports não vão conseguir. Isso não tem nada a ver com talento, mas com matemática pura: são poucas vagas, muita concorrência e um ambiente extremamente exigente.
E o que acontece com quem colocou todas as fichas no competitivo e não teve um plano B? Voltar a estudar, anos depois, não é impossível — mas é mais difícil. A defasagem pesa. A autoconfiança também. E, nesse momento, quem antes parecia “preguiçoso” ou “desfocado” pode acabar sendo rotulado como “fracassado”.
Mas a falha não foi dele. Foi do entorno. Foi da falta de preparo para lidar com a possibilidade mais comum no esporte — que é não virar.
Por isso, manter o estudo como prioridade não é uma barreira ao sonho. É a base pra que ele seja viável. Ou, no mínimo, para que ele não vire um trauma se não acontecer.
Educação e jogo: uma parceria possível

A verdade é que ninguém tem a fórmula ideal. Cada jovem vai ter seu próprio ritmo, seus próprios limites, suas próprias oportunidades. Mas uma coisa é certa: talento sem estrutura não sustenta carreira. E sonho sem preparo vira ilusão.
Pais não precisam entender de meta, economia de jogo ou posicionamento tático. Mas precisam estar presentes, abertos e atentos. Do outro lado, o cenário também precisa evoluir: não basta formar estrelas, é preciso formar pessoas.
Educação e competitivo não são caminhos opostos. Quando bem alinhados, eles se fortalecem — e constroem carreiras mais duradouras, saudáveis e inteligentes.
No fim das contas, a pergunta que fica não é se vale a pena apoiar o sonho do seu filho nos esports.
A pergunta é: como você pode ajudar esse sonho a não virar um pesadelo?
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