Existe inclusão no mundo dos esports?

A inclusão no mundo dos esports é uma realidade? Mesmo com campeonatos inclusivos, vivemos uma época onde todo mundo é representado? 

Os esports são frequentemente anunciados como um espaço onde o acesso ao competitivo seria democrático e livre de barreiras tradicionais. No entanto, a retórica inclusiva se mostra, na prática, uma promessa que muitas vezes esbarra em estruturas enraizadas e num preconceito sistêmico.

O que parecia ser uma arena de oportunidades para todos, especialmente para grupos historicamente marginalizados, revela hoje contradições profundas e uma negligência que coloca em risco o verdadeiro ideal de inclusão.

O ideal inclusivo versus a realidade excludente

A jogadora de League of Legends, Seiju, já sintetizava esse paradoxo ao afirmar que “o cenário é inclusivo porque tem a ideia de fomentar o desenvolvimento competitivo de pessoas que, sem esse ambiente, enfrentariam barreiras enormes”. Mas se, em teoria, os esports deveriam abrir caminho para o talento sem distinções, por que, então, os espaços de alta competitividade continuam sendo dominados por homens?

A dualidade dos campeonatos exclusivos: Avanço ou segregação velada?

Seiju, jogadora de League of Legends, quando ela atuava pela paiN Gaming, no Ignis Cup - Foto: Riot Games Brasil

Iniciativas como o Game Changers no VALORANT e o Circuito Feminino no Rainbow Six foram criadas com o intuito de dar voz e visibilidade ao talento feminino. No entanto, uma análise mais minuciosa revela que esses campeonatos podem funcionar duplamente: enquanto oferecem uma plataforma de desenvolvimento, eles também reforçam a separação do cenário misto.

Muitas jogadoras possuem o sentimento de que é quase uma separação – uma divisão que mantém o talento feminino confinado a uma bolha, sem a real possibilidade de transição para as ligas consideradas o ápice da competição. Essa realidade não é exclusiva dos esports. Em diversos setores – seja no esporte tradicional, na indústria do entretenimento ou até mesmo no mundo corporativo – a criação de “espaços exclusivos” frequentemente serve mais para isolar e estigmatizar do que para promover uma verdadeira integração.

Por outro lado, Luiza “luiza” Parron, jogadora da 2GAME GC, acredita que os campeonatos inclusivos são, sim, um caminho real para as jogadoras chegarem ao Tier 1. “Os campeonatos inclusivos servem para visibilidade das players e suas habilidades, e a cada momento que passa, o nível do campeonato aumenta mais e mais, logo evoluímos juntas. Muitas players ganham destaque mesmo que o time não fique no topo do campeonato e são chamadas para equipes maiores, assim evoluindo também. Liquid e MIBR conseguiram chegar no closed qualify do VCB e isso já é uma prova de que é o caminho.

Essa visão reforça a ideia de que a existência dos campeonatos femininos pode funcionar como um trampolim para algumas jogadoras, mas não elimina os desafios estruturais que limitam o acesso ao topo.

Barreiras estruturais e culturais no competitivo misto

Luiza, jogadora de VALORANT, pela 2GAME GC - Foto: X/@_luizavlr

Quando se analisa o acesso ao cenário misto, as barreiras são claras e multifacetadas. De um lado, existe a falta de convites e oportunidades: Jogadoras relatam que “elas querem ter um time no T2 e elas não conseguem porque elas são mulheres”. Essa realidade reflete uma cultura enraizada no preconceito, onde o talento feminino é sistematicamente desvalorizado.

Além disso, há uma cobrança desumana para que as jogadoras provem o dobro do seu valor. Qualquer deslize, por menor que seja, é amplificado e usado para reforçar estereótipos prejudiciais. Enquanto um erro de um jogador masculino é muitas vezes visto como parte natural do processo de evolução, o mesmo deslize cometido por uma jogadora se transforma em um sinal de incapacidade, criando um ciclo de autocrítica e insegurança.

Essa dupla cobrança não se limita ao desempenho técnico. Ela se manifesta em comentários transfóbicos, piadas de mau gosto e atitudes que reduzem as mulheres a meros objetos de marketing. Em diversas áreas – desde o futebol até a indústria da tecnologia – histórias de mulheres que precisam “se provar” repetidamente são comuns. Esse fenômeno é um reflexo de uma sociedade que, em vez de promover a verdadeira equidade, insiste em manter hierarquias e padrões que beneficiam apenas uma parcela da população.

Os desafios também aparecem na falta de suporte estrutural. Luiza compartilhou uma experiência pessoal ao falar sobre os momentos difíceis de sua trajetória: “Eu fiquei 1 ano e meio sem conseguir organização e isso foi desafiador, cada vez menos organizações estavam investindo, cada vez menos times que passariam para a LAN e isso foi me desanimando. Querendo ou não, uma hora o dinheiro vai acabando e precisamos do plano B ou C. Pensei em desistir no fim do ano passado, após o último main event, mas muitas pessoas próximas me apoiaram e me fizeram continuar um pouco mais (e ainda bem que continuei).

Esse relato evidencia uma realidade dura: sem investimento constante e apoio estruturado, muitas jogadoras acabam abandonando o cenário competitivo, não por falta de talento, mas por conta de um ambiente que não oferece as mesmas condições de crescimento que seus colegas homens têm à disposição.

Dados e histórias: O que os números dizem e como a história se repete

Equipes da Shopify Rebellion e MIBR, no VCT GC - Foto: VALORANT Esports

Pesquisas recentes indicam que a participação feminina em esports ainda é de apenas uma fração das equipes de alto nível. Estudos mostram que, enquanto a presença feminina em torneios amadores pode chegar a 30%, essa proporção despenca nas ligas profissionais para menos de 10%. Esses números não são meros dados estatísticos; eles contam a história de um sistema que, repetidamente, falha em reconhecer e valorizar o talento feminino.

Comparando com outros esportes, podemos ver que a luta pela igualdade de gênero não é exclusiva dos videogames. No futebol, por exemplo, a disparidade salarial e a falta de investimentos em categorias femininas são desafios persistentes.

Em setores como a tecnologia e as ciências, onde a presença feminina tem aumentado gradualmente, ainda há relatos de que as mulheres precisam trabalhar mais arduamente para serem reconhecidas. Essa realidade nos mostra que a exclusão e a marginalização são problemas sistêmicos, que transcendem o universo dos esports e fazem parte de um cenário social mais amplo.

Histórias de atletas e profissionais que enfrentaram e ainda enfrentam essas barreiras nos fazem questionar: por que, em pleno século XXI, o talento e a dedicação parecem ser insuficientes para romper os muros do preconceito? Se as iniciativas de inclusão são frequentemente tratadas como meras formalidades – ou pior, como instrumentos de marketing – a verdadeira revolução parece estar muito distante.

Reflexões sobre a revolução necessária: Mudança cultural e estrutural

Ignis Cup, o principal campeonato inclusivo de LoL brasileiro - Foto: Riot Games Brasil

Para transformar o cenário inclusivo em uma realidade efetiva, é imperativo que se adote uma mudança profunda nas estruturas e nas mentalidades. Seiju destaca a importância de investir em projetos que não se limitem à visibilidade, mas que promovam o desenvolvimento integral das jogadoras por meio de equipes multidisciplinares que englobem coaches, psicólogos, analistas e outros profissionais.

Essa transformação deve começar pelo reconhecimento de que a inclusão não é um acessório ou uma ferramenta de marketing. Ela é, antes de tudo, um compromisso ético e social que exige a desconstrução de paradigmas antigos e a implementação de políticas concretas que valorizem o mérito, independentemente do gênero. É preciso questionar, com coragem, os motivos pelos quais o cenário inclusivo é frequentemente “jogado as traças” – deixado de lado, negligenciado e até ridicularizado.

Uma mudança cultural requer também a educação e a conscientização de toda a comunidade. Assim como vimos em outras áreas, onde campanhas de sensibilização e programas educativos transformaram ambientes excludentes, nos esports é necessário que as organizações, os patrocinadores e os fãs se unam para promover uma cultura de respeito e valorização do talento feminino.

Não se trata apenas de evitar comentários misóginos ou de criar espaços segregados, mas de integrar as jogadoras em um sistema que lhes ofereça oportunidades reais de crescimento e reconhecimento.

Além dos esports: Lições de outras lutas por igualdade

A luta por inclusão e igualdade de gênero não se restringe ao universo dos esports. Em movimentos sociais, campanhas por igualdade salarial e na representatividade de mulheres na política e na ciência, a resistência dos setores dominados por uma cultura machista é palpável.

Histórias como a das pioneiras na ciência – que, apesar de suas contribuições, foram muitas vezes ofuscadas por colegas masculinos – ou a das atletas femininas que lutam por reconhecimento em esportes tradicionalmente masculinos, servem de espelho para o que ocorre nos videogames.

Essas histórias mostram que o desafio é global e multifacetado. É preciso que haja uma consciência coletiva de que as barreiras enfrentadas pelas mulheres são, em grande parte, fruto de uma estrutura social que privilegia o masculino. Nesse sentido, os esports podem e devem ser um campo de transformação – um microcosmo onde se reflitam as melhores práticas de equidade e onde o talento seja realmente o único critério de avaliação.

Um chamado à ação e à reflexão

A análise do cenário inclusivo nos esports, iluminada pelas reflexões de todo o artigo, nos leva a uma conclusão inevitável: a inclusão, como é tratada hoje, é uma ilusão que mascara desigualdades profundas. Se há talento e dedicação, por que as mulheres continuam sendo barradas do topo? Essa pergunta não é apenas uma crítica ao meio dos jogos, mas um convite à reflexão sobre toda uma sociedade que insiste em segregar e marginalizar.

É urgente que as organizações e a comunidade se mobilizem para transformar o discurso em ação. Que as iniciativas de inclusão passem a ser acompanhadas de investimentos reais, políticas de suporte e, principalmente, uma mudança cultural que permita a convivência de diferentes talentos sem preconceito. Não basta colocar ícones ou slogans em dias específicos – é necessário agir diariamente para que o sonho de um cenário verdadeiramente inclusivo se torne realidade.

Que este artigo sirva como um chamado à indignação saudável e à ação coletiva: que possamos, juntos, repensar os caminhos traçados e lutar por um futuro onde o talento feminino não seja apenas uma exceção, mas a regra. Afinal, a verdadeira revolução começa quando decidimos, de fato, romper com os padrões que nos dividem e construir um ambiente onde todos tenham a mesma chance de brilhar.

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Carlos Oliveira​

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celo

Marcelo Leite​

celo

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Rodrigo Gasparini

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AYUMI

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