O Brasil vai de mal a pior no VCT Américas. Depois de pequenos sucessos, as equipes andam tendo campanhas amargas. Vamos entender mais o que está acontecendo? Confira uma análise logo abaixo:

Quando a Riot Games anunciou o sistema de franquias no VALORANT em 2023, a comunidade brasileira recebeu a notícia com entusiasmo. Afinal, o Brasil vinha de um histórico recente de bons resultados no cenário internacional — e, com três representantes no VCT Américas (LOUD, FURIA e MIBR), parecia que finalmente teríamos estrutura e estabilidade para disputar títulos de igual para igual com norte-americanos e latino-americanos.
Havia uma expectativa quase natural de que o Brasil seguiria como protagonista. LOUD, atual campeã mundial à época, era a joia da coroa. FURIA e MIBR, com bons nomes e torcida engajada, prometiam evolução. Mas com o passar das temporadas, essa promessa começou a ruir. Os resultados mostram um cenário onde só um time brasileiro realmente compete — enquanto os demais colecionam eliminações precoces, trocas apressadas e desempenho abaixo da média.
Muito se fala dos obstáculos logísticos, como a dificuldade que jogadores brasileiros enfrentam para conseguir vistos e se adaptar à vida em Los Angeles. Mas a realidade é que os problemas vão além da papelada. O Brasil, que já foi referência, hoje se mantém no cenário internacional mais por vaga fixa do que por mérito em jogo.
2023: A era da adaptação e os primeiros choques de realidade

O primeiro ano do VCT Américas deixou claro que o sistema de franquias não equaliza a competitividade por si só. A LOUD começou forte, como esperado. Liderou a fase regular, terminando em terceiro lugar no Champions — desempenho de elite, que consolidou o time como um dos maiores da história do VALORANT mundial.
Porém, essa performance acabou camuflando uma verdade desconfortável: o sucesso da LOUD era um ponto fora da curva. O MIBR não conseguiu sequer disputar os playoffs em 2023. Enquanto que a FURIA se classifica, mas tem sérias dificuldades. A diferença entre a LOUD e os outros dois representantes brasileiros não era apenas de execução dentro do servidor, mas de estrutura, filosofia e mentalidade competitiva.
A FURIA apostava em nomes promissores, mas mostrava sinais de desorganização tática. O MIBR, apesar da tradição no FPS, parecia um time perdido entre mudanças de roster e falta de identidade. Ambos os projetos pecavam no planejamento e na leitura de jogo — e quando o nível do campeonato subiu, ficaram para trás.
Já naquela temporada, os problemas com vistos começaram a surgir. Jogadores brasileiros enfrentavam atrasos para chegar nos Estados Unidos, o que comprometia semanas preciosas de treino. Mas apesar de ser um fator importante, ele serviu também como escudo para falhas mais profundas. A verdade é que, fora a LOUD, os outros times brasileiros não estavam prontos — técnica, tática e mentalmente — para jogar em alto nível contra as principais organizações da América do Norte.
2024: A estagnação além dos vistos

Se 2023 foi um ano de adaptação, 2024 escancarou a estagnação. Os problemas com vistos persistiram — jogadores que só conseguiam embarcar às vésperas do campeonato, sem tempo de casa, sem rotina definida, e com semanas inteiras de treino comprometidas. É um obstáculo real, que afeta diretamente o desempenho. Mas em algum momento, o discurso do “prejuízo logístico” deixou de explicar os fracassos dentro de jogo.
Taticamente, as equipes brasileiras seguiram um passo atrás. Enquanto as organizações da América do Norte investem em staff robusto, análise de dados e evolução constante do playbook, FURIA e MIBR continuaram presos em ciclos de reformulação que nunca viravam performance. A LOUD, mesmo mantendo um alto nível, também começou a dar sinais de desgaste — mudanças no elenco e na comissão técnica tornaram o projeto menos coeso, e as derrotas em momentos decisivos começaram a pesar.
Além disso, ficou evidente uma dificuldade coletiva dos times brasileiros em interpretar o meta. Várias composições foram adotadas tardiamente ou executadas de forma imprecisa. As equipes falhavam na leitura dos adversários, na adaptação durante os mapas e na capacidade de fechar jogos ganhos. As derrotas deixaram de ser exceção e viraram rotina.
No fim das contas, os problemas com visto passaram a ser um sintoma, e não a causa. O buraco era mais embaixo: falta de continuidade nos projetos, ausência de lideranças fortes, rotatividade constante de peças e uma cultura que ainda não entendeu o que significa competir em um cenário de alto nível internacional.
2GAME no VCT Américas: o Brasil ganha em quantidade, mas e a qualidade?

O fim de 2024 trouxe uma boa notícia para o cenário brasileiro: a 2GAME, organização nacional até então fora do sistema de franquias, conquistou a vaga no VCT Américas por meio do Ascension. Era o retorno do Brasil como potência numérica — com quatro representantes entre os melhores times do continente.
A classificação da 2GAME foi celebrada como um sopro de renovação. Pela primeira vez, o circuito brasileiro entregava uma equipe com identidade própria, formada por jogadores que não estavam no radar das grandes organizações. A campanha no Ascension empolgou, com vitórias consistentes e um estilo de jogo agressivo, mas coordenado — coisa rara no cenário nacional recente.
A esperança era clara: com mais um time na liga, surgiria uma nova narrativa, talvez até uma nova referência competitiva. O sentimento era de que o Brasil poderia, enfim, começar a transformar quantidade em qualidade.
Mas bastaram os primeiros movimentos da offseason para acender o sinal de alerta. A 2GAME perdeu peças importantes, o elenco foi desmontado, e o projeto começou a ser reconstruído do zero — justamente o erro que condenou tantas outras tentativas anteriores. E com os times brasileiros já pressionados por resultados frágeis, a entrada da 2GAME levantava uma pergunta inevitável: será que estamos prontos para sustentar quatro times em alto nível?
O ano de 2025 começava com euforia, mas também com um velho temor: mais uma vez, o Brasil parecia entrar no campeonato com mais dúvidas do que certezas.
2025: Um futuro que cobra respostas (ou mudanças radicais)

Com quatro times brasileiros no VCT Américas pela primeira vez, o cenário pintava uma oportunidade única. Era a chance de consolidar presença, diversificar estilos de jogo e provar que o Brasil ainda tem fôlego competitivo. Mas o que se viu, nas primeiras rodadas de 2025, foi um roteiro conhecido: dificuldades táticas, problemas estruturais e desempenhos que não empolgam.
A LOUD, mesmo com uma base mantida, começou o ano enfrentando questionamentos internos. Mudanças na comissão técnica e ajustes no elenco criaram ruído. A FURIA seguiu o padrão de recomeço — mais um split apostando em nomes novos, sem continuidade real. O MIBR, foi o único time que realmente surpreendeu, mas que passou por mudanças, trazendo um ar de dúvidas. E a 2GAME, recém-chegada da Ascension, foi obrigada a montar um elenco apressado, tentando competir em alto nível com menos tempo, menos recurso e mais pressão do que qualquer outra equipe.
O que deveria ser um marco histórico virou mais um alerta: o Brasil não está conseguindo transformar presença em protagonismo. O nível técnico não acompanhou a expansão numérica. Pior — em vários momentos, os times brasileiros parecem simplesmente desatualizados frente aos concorrentes norte-americanos e latino-americanos, que evoluíram mais rápido, com ideias mais modernas e execuções mais sólidas.
Não se trata apenas de falta de talento. O Brasil sempre revelou bons jogadores. O problema é a base frágil dos projetos. Falta tempo de trabalho, planejamento de longo prazo, comissões técnicas qualificadas e uma cultura de competição real — onde a derrota gera aprendizado e não apenas mais uma reformulação.
Se o VCT Américas é um campeonato de elite, o Brasil precisa parar de entrar todo split como se ainda estivesse em fase de testes. O futuro chegou — e ele não vai esperar.
Ainda somos o país do VALORANT?

O Brasil foi, por um breve período, o centro do mundo no VALORANT. Formou um campeão mundial, revelou talentos de impacto global e criou uma torcida apaixonada que movimenta redes sociais, streams e arenas. Mas em 2025, a pergunta que se impõe é: ainda somos o país do VALORANT?
O desempenho coletivo não sustenta mais esse título. Temos quatro vagas fixas, mas nenhuma garantia de protagonismo. Nossos times competem, mas não assustam. Vencem séries isoladas, mas não constroem campanhas sólidas. A cada novo split, a sensação é de que estamos começando do zero.
O talento existe. Mas talento sem estrutura é desperdício. E talento sem mentalidade competitiva é estagnação.
Se quisermos voltar a ser uma referência no cenário internacional, será preciso muito mais do que resolver a burocracia de vistos. O problema é de visão, de projeto, de como os times brasileiros entendem o jogo — dentro e fora do servidor.
A pergunta que fica, então, não é se ainda temos potencial. Isso nunca faltou. A pergunta é: quem vai ter coragem de mudar a forma como o Brasil compete?
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